Resenha: Como manter a calma | Sêneca

No mundo veloz de hoje, é possível cultivar a contemplação e a tranquilidade? Seria possível não se deixar dominar pela ira? E, se sim, como um filósofo do século I pode nos ajudar nessa jornada? O livro Como manter a calma busca responder a essas perguntas.

 

Como manter a calma

 

Como manter a calma

Como manter a calma é uma seleção de textos do livro Sobre a ira, de Sêneca, um filósofo estoico do século I d.C. A proposta do livro é ser um texto acessível para quem está começando suas leituras da filosofia de Sêneca ou mesmo para quem apenas quer saber como se manter tranquilo num mundo que parece testar nossa paciência a cada instante.

 

Entendendo a Filosofia como uma medicina da alma, Sêneca busca fazer o diagnóstico e prescrever o tratamento para a ira, “a mais terrível e violenta de todas” as paixões (I.1). Utilizando-se da Filosofia Estoica, mas também de sua própria experiência como senador romano, Sêneca mostra, com exemplos (alguns bem cruéis) os efeitos nocivos da ira e defende que não basta reduzi-la, é preciso evitá-la.

 

Essa proposta pode parecer radical, mas Sêneca discorda. Como os estoicos anteriores, ele sabe que, uma vez que a pessoa está tomada por uma paixão, é praticamente impossível controlá-la.

 

O melhor é repelir imediatamente a primeira pontada da ira, combater suas próprias sementes e prestar atenção para não cairmos nela. Pois, uma vez que ela nos golpeou, é difícil retornar à saúde e à segurança; não há mais espaço para a Razão uma vez que a paixão tenha entrado e se lhe tenha dado algum direito. A partir daí, ela vai fazer o que quiser, não o que você permitir. (I.8)

 

Ao longo do livro, Sêneca trata desde os prejuízos individuais e coletivos da ira até a educação das crianças, como uma forma de prevenir que elas se tornem adultos que se iram facilmente. Para isso, ele recomenda moderação: que a criança não seja emocionalmente abandonada, mas que também não seja mimada; que ela aprenda a assumir responsabilidades pelas próprias ações e que aprenda a lidar com os bens possuindo-os e não sendo possuída por eles.

 

Lidando com negacionistas

 

No caso dos adultos, ele chama a atenção para o modo como corrigimos as pessoas. E, aí está um trecho que me fez pensar até agora, porque tem tudo a ver com o modo como lidamos com negacionistas, por exemplo:

 

Naquela discussão você falou de forma muito agressiva; daqui em diante, não discuta com ignorantes, se não aprenderam até aqui, é porque não querem aprender. Você criticou aquele homem de forma mais direta do que deveria; desse jeito, você não o corrige, você só o ofende: da próxima vez, observe se o que você está dizendo é não só verdadeiro, mas se aquele para quem você diz consegue suportar a verdade. Quem é bom fica feliz em ser corrigido, mas os maus não suportam bem quem os corrige. (III.36)

 

Lendo esse trecho, fiquei pensando no que Sêneca falaria hoje aos haters na internet, aos negacionistas da ciência… E mais: como ele nos aconselharia a agir quando esses negacionistas fazem parte da nossa família ou do nosso círculo de amigos, por exemplo? Como orientar sem ofender? E qual é o limite para tentar argumentar com alguém que se apegou a uma opinião?

 

É um livro que dá o que pensar! Disso, você pode ter certeza! A ira é o fio condutor, mas os assuntos são os mais variados e garantem boas fritações filosóficas ao longo de toda a leitura.

 

Vale a pena?

 

Quem me acompanha no Instagram, já percebeu o meu interesse por Sêneca. Inclusive, já compartilhei, lá e aqui, um post sobre 3 atitudes estoicas para o novo ano, no qual eu comento sobre a reflexão que Sêneca faz acerca do uso do tempo e como ela me ajudou a olhar a vida com outra perspectiva.

 

Por isso, salvo no caso de traduções ruins e obras apelativas, eu considero excelentes as iniciativas de popularização da Filosofia em geral e do Estoicismo, em particular. O livro Como manter a calma faz bem o trabalho de ser uma obra de divulgação acessível (tanto no texto quanto no preço) e, por isso, sim, eu recomendo muito a leitura.

 

Há um probleminha aqui ou ali, mas geralmente, são escolhas editoriais. No mais, o livro é ótimo e ainda conta com um trechinho de um ensaio de Montaigne sobre a cólera, ao final.

 

 

Se você já conhece o livro, me conta as suas impressões nos comentários? Eu vou adorar saber o que você achou dele! E, se não leu ainda, fica a dica.

 

Ficha técnica

 

> Páginas: 144

> Editora: Nova Fronteira

> Preço médio: R$ 21,00

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