Uma reflexão sobre a atitude do estoico em tempos de pandemia, a partir do Manual de Epicteto.
Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o impulso, o desejo, a repulsa – em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos – em suma: tudo quanto não seja ação nossa. Por natureza, as coisas que são encargos nossos são livres, desobstruídas, sem entraves. As que não são encargos nossos são débeis, escravas, obstruídas, de outrem. (Epicteto, Manual 1)
Um princípio básico do Estoicismo de Epicteto é saber diferenciar o que podemos controlar (nosso estado mental: desejos e aversões, impulsos e opiniões) daquilo que não podemos (as coisas externas).
O grande problema é que muita gente entendeu esse princípio errado, achando que ele significa uma passividade diante das coisas externas. Afinal, já que não posso controlar, largo de mão, certo? Errado!
As coisas externas são aquelas que não dependem totalmente de você, mas que você pode manejar de alguma forma, lidar da melhor maneira possível.
Em tempos de pandemia, isso significa que não dá pra controlar o genocida do presidente, mas dá pra criticar, pra fazer oposição, pra votar diferente em 2022.
Não dá pra controlar sozinhos a pandemia, mas dá pra seguir as orientações sanitárias e evitar o negacionismo.
E a gente faz tudo isso enquanto cuida de si, cuida da nossa mente, dos nossos afetos, pra não sucumbir à desesperança.
O Estoicismo não é uma filosofia de passividade, mas de resistência. Diante do mundo atribulado, o estoico constrói em sua mente uma cidade de refúgio, onde só ele tem o controle. E, estando com sua mente protegida, ele age como cidadão do cosmos, para o bem de todos.
Se quiser ler mais reflexões baseadas no Estoicismo, talvez te interesse o post sobre a mudança como constante, que eu publiquei há alguns dias.