Você já leu um livro que virou sua cabeça do avesso? Aqueles que não só contam uma história, mas fazem você questionar tudo: sua existência, a moralidade, o tempo, até mesmo a própria realidade? Se sim, você sabe do que eu estou falando: os livros de literatura altamente filosóficos.
Então, se você gosta de literatura que desafia, instiga e transforma, leia até o final, porque essa lista vai mexer com você.
Livros de literatura altamente filosóficos
Apesar de serem áreas de estudo diferentes, a literatura e a filosofia andam de mãos dadas em muitos aspectos. Um deles é o modo como a literatura pode apresentar de modo muito vívido certos temas que povoam o trabalho dos filósofos: vida e morte, beleza, trabalho, guerra, entre outros.
Posso dizer que, desde que eu comecei a ler mais literatura, minhas reflexões de filosofia se tornaram muito mais ricas e profundas. Por isso, selecionei 5 livros que eu li e que alugaram um triplex na minha cabeça.
1️⃣ Bartleby, o Escrivão – Herman Melville
Bartleby conta a história de um escrivão contratado por um escritório de advocacia que, certo dia, passa a responder a qualquer pedido com “prefiro não”. E leva isso às últimas consequências.
O que começa com uma história aparentemente simples é, na verdade, uma profunda reflexão sobre a alienação, a passividade e a recusa em participar das engrenagens da sociedade. A famosa resposta do personagem – “Prefiro não” – não é apenas um capricho, mas um gesto de resistência silenciosa contra o sistema burocrático e as exigências da vida moderna. Bartleby encarna o conceito de inação ativa, a ideia de que o indivíduo pode escolher a apatia como forma de protesto.
Sua recusa sistemática em participar do sistema coloca em xeque a estrutura do trabalho e levanta questões sobre livre-arbítrio: até que ponto temos controle real sobre nossas escolhas quando a alternativa ao conformismo parece ser a exclusão e o isolamento?
Ao mesmo tempo, Melville desafia o leitor a pensar sobre empatia e responsabilidade moral. O narrador, um advogado pragmático, tenta ajudar Bartleby, mas esbarra na incapacidade de compreender sua completa negação do mundo. Aqui, surge uma reflexão ética importante: o quanto podemos (ou devemos) interferir na vida do outro?
O silêncio e a passividade de Bartleby se tornam um espelho desconfortável da própria indiferença social e do absurdo da existência, temas que posteriormente seriam explorados por pensadores como Albert Camus e Jean-Paul Sartre.
🎬 Se você se interessou pelo Bartleby, no YouTube, eu fiz uma super análise do livro (sem spoilers) e você pode assistir neste vídeo.
2️⃣ O Retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde
Esse livro foi uma das minhas maiores obsessões em 2024!
A obra de Oscar Wilde é um verdadeiro tratado sobre a estética, a moralidade e a busca pela juventude eterna. Dorian Gray encarna o hedonismo absoluto ao trocar sua alma pela preservação de sua beleza, um pacto simbólico que reflete a tensão entre aparência e essência. Inspirado pelas ideias do decadentismo e da filosofia de Nietzsche, o romance questiona o conceito tradicional de moralidade: Dorian se entrega aos prazeres sem se preocupar com as consequências, acreditando que o belo está acima do bem e do mal.
No entanto, a deterioração de seu retrato revela que o peso das ações não pode ser ignorado, sugerindo que há um custo inevitável para o excesso e a busca desenfreada pelo prazer.
Filosoficamente, o livro levanta a questão do dualismo entre corpo e alma, explorando a ideia de que a aparência pode ser ilusória e que a verdadeira essência de uma pessoa está nas marcas deixadas pela vida. O retrato de Dorian funciona como uma metáfora da consciência, acumulando os efeitos de seus atos enquanto ele próprio permanece intocado.
A narrativa também dialoga com a crítica à superficialidade da sociedade vitoriana e ao culto à juventude eterna, um tema que ressoa fortemente até hoje. No final, Wilde parece sugerir que ninguém pode escapar das consequências de suas próprias escolhas, e que a verdade, por mais escondida que esteja, sempre se manifesta.
3️⃣ Frankenstein – Mary Shelley
Mais do que uma história de terror gótico, Frankenstein é uma obra profundamente filosófica, que toca em temas como criação, responsabilidade e a própria natureza da humanidade. Victor Frankenstein, ao dar vida a sua criatura, coloca-se na posição de um “novo Prometeu”, desafiando os limites da ciência e da ética.
O romance dialoga com o pensamento iluminista e romântico, questionando se o avanço tecnológico e científico deve ser guiado apenas pelo progresso ou se há um limite moral que não deve ser ultrapassado. A criatura, rejeitada por seu criador e pela sociedade, levanta uma questão central da filosofia existencialista: o que define a humanidade? A aparência ou as ações?
Outro tema fundamental da obra é o abandono e a necessidade de pertencimento. A criatura de Frankenstein, rejeitada por todos, busca desesperadamente amor e aceitação, mas é condenada ao isolamento. Isso evoca a ideia de que a identidade é moldada pelo olhar do outro, algo que filósofos como Sartre desenvolveriam mais tarde.
A narrativa também dialoga com o conceito de hýbris, explorado desde a tragédia grega, onde o desejo desmedido de um homem de se equiparar aos deuses resulta em sua ruína. Mary Shelley antecipa debates contemporâneos sobre bioética e inteligência artificial: até que ponto podemos criar sem assumir responsabilidade por nossas criações?
4️⃣ Guerra e Paz – Liev Tolstói
Tolstói transforma a guerra napoleônica em um imenso palco para explorar questões filosóficas sobre a história, o destino e o livre-arbítrio. Em Guerra e Paz, ele desafia a visão tradicional da história como obra de grandes líderes, argumentando que os acontecimentos são impulsionados por forças coletivas e incontáveis decisões individuais.
Essa perspectiva lembra a filosofia de Hegel e sua noção de que os eventos históricos seguem um curso quase inevitável, moldado por leis maiores que a vontade individual. Os personagens de Tolstói, sejam soldados, nobres ou camponeses, são constantemente levados por uma corrente histórica que parece estar além do controle humano.
Além da reflexão histórica, a obra mergulha na busca pelo sentido da vida. Pierre Bezukhov, um dos protagonistas, passa por uma profunda jornada espiritual, oscilando entre o materialismo e uma fé existencial, algo que reflete a própria transformação filosófica de Tolstói.
O romance levanta questões sobre o determinismo e a liberdade: somos agentes de nossas próprias escolhas ou apenas peças em um jogo maior? Em última instância, Guerra e Paz não é apenas sobre batalhas, mas sobre como os seres humanos tentam encontrar significado em meio ao caos da vida.
5️⃣ A Morte de Ivan Ilitch – Liev Tolstói
E para fechar, um dos meus livros favoritos da vida, que explora a finitude e a negação da morte de uma maneira extremamente crua e filosófica: A morte de Ivan Ilitch.
A trajetória do protagonista é um espelho da condição humana: ele vive uma vida superficial, dedicada às convenções sociais e ao status, até que a morte iminente o força a confrontar a própria existência. Tolstói critica a maneira como a sociedade ocidental lida com a morte, como algo distante, quase impensável, e nos faz questionar: vivemos de fato ou apenas seguimos um roteiro imposto pelos outros?
O grande dilema de Ivan Ilitch é que ele percebe tarde demais que sua vida foi vazia, construída sobre valores efêmeros. Seu sofrimento não é apenas físico, mas metafísico: ele não sabe como lidar com a ideia de que tudo o que construiu não tem real significado. Imagina só estar nessa situação! Ivan Ilitch é um soco no estômago necessário.
O livro, assim, nos leva a refletir sobre a autenticidade e a ilusão do tempo: quando nos damos conta do que realmente importa, será tarde demais? Tolstói nos convida a repensar nossas prioridades e a encontrar um sentido genuíno antes que o inevitável nos alcance.
Não tem como ler e não ser impactado por esse livro. Se quiser saber mais das minhas impressões, eu comentei neste post aqui do blog, eu falei mais sobre A morte de Ivan Ilitch.
Você também pode conferir este post em formato de vídeo:
Você já leu algum desses livros? Indica outros livros de literatura altamente filosóficos? Me diz nos comentários. 😊